segunda-feira, 18 de julho de 2022

Falta de medicamentos pode causar risco potencial de morte', alerta médico sobre no Brasil

 

No Brasil, estimativa da Confederação Nacional dos Municípios estima que o problema já afeta 80% das cidades; em Minas, falta remédio até para câncer



A falta de medicamentos vivenciada em todo o Brasil expõe pacientes que dependem dos fármacos à morte. A avaliação é do vice-presidente da Federação Médica Brasileira, Fernando Mendonça. Nesta sexta-feira, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) emitiu nota informando que 80% das cidades brasileiras enfrentam o problema. 

Em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG) informou que 51 remédios estão com estoques zerados. Na lista, há drogas indicadas para tratamentos de doenças como câncer, esquizofrenia, parkinson e malária. “Têm medicamentos utilizados na quimioterapia que não têm outras opções e isso se torna um risco potencial de morte dos pacientes que não têm os medicamentos determinados”, alerta Mendonça, também diretor do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG). 

Na lista da SES, há dois medicamentos utilizados nas terapias contra o câncer: o Ciclofosfamida e o Leuprorrelina - este último indicado apenas para quem foi diagnosticado com a doença na próstata. O profissional da saúde lembrou que em algumas doenças, como a pneumonia, a demora em oferecer um coquetel de remédios também é um problema. “Pode ter um agravo por falta de medicamento”, assinala.

Apesar de ter ganhado os debates nesta sexta, o problema não é recente e já ocorre há meses. Em abril, O TEMPO já havia noticiado a escassez de antibióticos e anti-inflamatórios utilizados, principalmente, para tratar enfermidades respiratórias. “Por mais que a gente entenda que existam fatores externos como guerra na Ucrânia, questões na China, alta do dólar, que às vezes fogem à governabilidade, a população está sendo muito prejudicada com a falta de planejamento e previsibilidade para obter medicamentos importantes”, atesta o médico. 

Mendonça, que se especializou na pediatria, relatou que tem recebido retorno de pacientes que tiveram a indicação de antibióticos para tratar inflamações, solicitando que a receita seja alterada por não encontrar os fármacos. “É um problema que afeta o sistema de saúde no geral, não é algo exclusivo do SUS, mas também da saúde suplementar. Estamos vivendo o perigo de não poder oferecer ao paciente aquilo que a medicina entende de melhor ao paciente e isso foge da possibilidade de resolução dos médicos”, lamenta. 

Problema sem solução 

Apesar da urgência em se resolver o problema, Fernando Mendonça não crê em uma melhora no cenário a curto e médio prazo. Ele criticou a postura do governo federal frente o assunto e afirmou que o problema tem o mesmo nível de gravidade da situação econômica e de vulnerabilidade social que culminou com a Pec Kamikase. “São R$ 40 bilhões que vai ajudar os caminhoneiros, mas tem coisa ainda mais grave para gastar esse dinheiro”, criticou o vice-presidente da Federação Médica Brasileira. 

Mendonça ainda pediu que sejam implementadas políticas públicas que garantam à sociedade o acesso às medicações, independente da rede de saúde em que as pessoas são atendidas. “É viabilizar, do ponto de vista financeiro, a solução para a falta do insumo. Ir comprar onde tem disponível”, opina. 

O que dizem os órgãos? 

Em nota, a SES-MG informou que "as estratégias para tentar mitigar os efeitos dos desabastecimentos têm sido discutidas em âmbito nacional, entre Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass)".

A Prefeitura de BH esclareceu que "os usuários são orientados a procurar as equipes de Saúde da Família para que sejam reavaliadas a prescrição e a possibilidade de indicação de outro medicamento. É importante esclarecer que o contato com os fornecedores é constante para manter o abastecimento dos estoques sempre em dia".

O Ministério da Saúde foi questionado, mas não respondeu ao e-mail enviado pela reportagem. 

Por que há falta de medicamentos?

A falta de medicamentos, conforme fontes consultadas pela reportagem, se deve ao lockdown na China. O país asiático abastece o Brasil de matéria-prima para produção de medicamentos e tem adotado medidas duras contra a Covid-19. 

Com as indústrias chinesas fechadas, países como o Brasil, que dependem da oferta chinesa, passam aperto. Há quem diga também que o País só está nessa situação porque não investiu em tecnologia, já que tem capacidade de produzir esses medicamentos por aqui.

“É uma falta de medicamentos sazonal, que vem desde o início do ano. Hora é uma matéria-prima que falta, e outra hora é outra matéria-prima. Já tivemos falta de dipirona e solução de vários xaropes. A maioria dos medicamentos é para uso infantil. Agora, estamos passando pela falta de alguns produtos antibióticos. As amoxicilinas líquidas, para uso do público infantil e juvenil”, diz Rony Anderson, vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos de Minas Gerais (Sincofarma).

De acordo com Rony, a indústria tem informado que o fechamento da China atrasa os pedidos. “A matéria-prima vem toda do continente asiático. Quando esse medicamento chega, ele ainda tem que passar por uma quarentena. Por mais que possa vir de avião, esse produto ainda tem que aguardar um tempo. A gente tem passado o ano inteiro com faltas recorrentes”, afirma o vice-presidente do Sincofarma.

Por Simon Nascimento e Gabriel Ronan

Fonte: O TEMPO EDITORA